sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Tão quente

 

A gota de suor escorreu-lhe pelo rosto indo parar em um lugar desconhecido sobre seu corpo. O calor, porém, parecia emanar de dentro dele, tomando conta de todo seu ser.

o calor eram tristezas, cheiros fortes, dores, palavras duras e algumas ironias doces.

Com o sol a pino, não conseguiu agüentar nem um segundo a mais. Seu corpo foi se dissolvendo junto ao suor, e era suor, terra, ódio, todos juntos escorrendo pelo asfalto quente.

Não tardou e o garoto-derretido perdeu-se em um bueiro qualquer.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sobre amor e dinheiro

 

"Não está à venda", foi o que ela disse quando ele perguntou quanto custava o seu amor.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

CARTA-SONHO

 

Ela não havia dormido bem. Um misto de sono, cansaço e vontade de estar acordada. O mais frustrante era que estava em um tempo que não era o dela, num lugar que também não era o dela, apesar de tudo parecer ser o mesmo.

e havia alguém que estaria lá que não existe mais aqui, mas que ela sempre havia gostado. Sei, é meio estranho gostar de alguém que você nunca conheceu pessoalmente, nem mesmo viu de relance na rua, mas ela sempre teve esse encanto estranho; não pelo que ele fazia ou tinha, mas simplesmente pelo que ele era.

Estavam na estação de metrô. Duas garotas amigas dela e alguns garotos amigos dele. Ela carregava uma bolsa pequena, sem nem saber a finalidade. Uma música tocava, mas ela não sabia identificar qual. Era dançante, pois todos se moviam ao seu ritmo. Todos dançavam. E a bolsa nem estava mais lá agora.

Depois de algum tempo, Kurt chegou. Usava um gorro azul e vestia uma roupa simples.

Dançaram um pouco junto dele, as amigas e ela. Quando a música cessou, ela disse que adorava o som da banda do recém-chegado e o tocou no peito (precisava sentir se era real).

A música voltou e recomeçaram a se mexer.

Ela conseguia sentir o calor dele e seus corpos começaram a se tocar aos poucos. Logo os dois eram como um e ela sentia dele um leve roçar da sua barba feita no dia anterior.

Viraram um pouco o rosto e os lábios se tocaram de leve... mais uma vez... e outra... e outra... no fim, se beijavam sem constrangimento. Ela achou gostoso, mas tinha o ardidinho de quando se chupa uma bala de menta. e doía um pouquinho.

A garota até pediu que tirassem uma foto dos dois juntos, mas nenhuma delas ficou boa o suficiente e no fim até a câmera havia sumido.
Até mesmo no sonho ela sabia que era um momento para ser vivido uma única vez.

Acordou estranha, com vontade de voltar e ser para sempre, mas não aconteceu. Nunca acontece assim, sabemos.

Por isso ela escreveu para mim, para que mesmo não podendo ser para sempre, ela pudesse tê-lo na mesma proporção.

e se pudesse, sonharia para sempre.