segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Bon Odori



As lanternas de papel coloriam as ruas estreitas do local. O céu ainda estava claro e as pessoas começavam a chegar. As pétalas de cerejeiras caídas no chão eram pisoteadas pelos distraídos.

Sem demora e cumprindo seu papel diário, o sol começava a se por. Era nessa hora que os convidados chegavam, era nessa hora que os mortos vinham às ruas. Vinham guiados pela saudade e pelas lanternas acesas que faziam da terra um pedaço de céu estrelado.

Sakura não se aguentou em si ao ver sua batian chegando, trajando o mais belo quimono. A garota sabia que o Bom Odori não era um dia de tristeza e enxugou a lágrima teimosa que insistia em escorrer pelo seu rosto. A velha senhora recém-chegada pegou a mão da neta e a pequena arrepiou-se. Seu toque era gelado, mas transmitia um calor gostoso.

Juntos, espíritos pessoas cerejeiras música e estrelas circulavam as ruas, festejando, antes que o sol nascesse e fosse hora de partir.

domingo, 26 de agosto de 2012

Leitura da semana #3

Após muitos meses de hiatus (leia-se desânimo literário), coloco de novo no ar a coluna Leitura da semana, que comento os livros que li durante a semana. Os livros dessa vez me deram um gás para voltar a me animar.

POR ISSO A GENTE ACABOU (Daniel Handler)

Mais um ótimo livro de Daniel Handler, que escreveu a coleção Desventuras em Série sob o pseudônimo de LemonySnicket. Apesar de ser uma temática bem diferente de seus livros anteriores, é fácil notar seu modo único de escrita que te prende até o fim. Foi justamente isso que aconteceu: não consegui desgrudar até terminar de ler. A história de uma garota com o coração partido que devolve uma caixa para o ex com todos os pertences que marcaram o relacionamento dos dois acaba se tornando interessante, mesmo que caia em alguns clichês de vez em quando. Cada capítulo se inicia com um dos objetos devolvidos e no decorrer, a protagonista explica como o objeto se relaciona com a história dos dois. Ela é apaixonada por cinema e, durante toda a história, compara vários acontecimentos com os filmes antigos (fictícios) que tanto gosta. Leitura que vale muito a pena.


CARVÃO ANIMAL (Ana Paula Maia)

Uma autora nacional que me surpreendeu bastante. Peguei a dica no blog do Santiago Nazarian. Difícil descrever o que me prendeu tanto no modo de escrita dela, mas achei interessante o fato de ela conseguir tornar uma história relativamente simples (sem elementos sobrenaturais/fantásticos) em algo tão interessante de se ler. No livro em questão, ela destaca como todos os personagens estão ligados às cinzas e ao carvão, adentrando o psicológico dos mesmos de forma espetacular. Fiquei bem curioso para ler mais dela.




MELHORES POEMAS DE PAULO LEMINSKI

Reunião de diversas poesias do Leminski que já foram publicadas em outros títulos, que eu já havia lido há muitos anos e agora comprei um exemplar pra mim (muito difícil de se encontrar, diga-se de passagem). Sou suspeito pra falar, já que sempre fui muito fã do Leminski. Se as palavras têm algum poder, com certeza foram mágicas nas mão dele.

sábado, 18 de agosto de 2012

Sobre viagens e despedidas




‒ Adivinha qual foi a primeira coisa que coloquei na mala.

‒ Alívio por deixar essa cidade.

‒ Eu ia dizer guarda-chuva, mas acho que você está certo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Simplificando



Você sempre esteve dentro da média. Sua voz era calma e serena, seus movimentos não tinham uma graça específica, por vezes eram até duros demais. Não consigo dizer se era bonita ou feia. Era comum. Se caminhasse entre uma multidão dificilmente seria notada, e alguma criança mais esperta poderia te olhar e pensar: “Nossa, como ela é comum.” E ela estaria certa.

E como era bondosa... quase daquela bondade extrema que te faz ser passado para trás entre negociadores. Você era setenta e três por cento bondade. Pessoas boazinhas nunca me encantaram e foi por isso que amei você vinte e sete por cento. Amei você quando fazia caretas de raiva e quando respirava fundo para não explodir. Amei você naquele dia que soltou um palavrão entre dentes, cansada de esperar clientes indecisos na padaria que teimavam em experimentar os quitutes um a um, enquanto sua vez não chegava e você morria de vontade de comer um sonho.

Você foi sempre tão simples e acho que justamente por isso não foi difícil amar você, mesmo o pouco que amei. Até seus defeitos (os poucos existentes) soavam doces quando ditos.

Foi fácil te amar, como também foi fácil te esquecer. Quando saio com alguma mulher mais efusiva, entretanto, e ela fala alto e me constrange, sinto falta do seu beijo comum, quase sem gosto, do nosso papai-mamãe e de como você me acordava com um simples bom dia toda manhã.