terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Uma coisinha ou outra sobre primeiro amor



Ele já estava estafado de todos falarem que era muito novo para se apaixonar. Ora, todo garoto de oito anos se apaixona! Qual é a novidade nisso, ele imaginava, enquanto escrevia mais uma das cartas de amor que sabia que não teria coragem de entregar e se acumularia com todas as outras na velha caixa de sapatos embaixo da cama.

Só podia ser amor, porque só o amor faz guardar o dinheiro do lanche durante duas semanas para comprar flores para a professora amada, faz ter vontade de não brincar no recreio só para espiá-la pela janela, faz ter vontade de crescer logo.

Foi aos oito anos também que ele entendeu o que era um coração partido.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

CRÔNICA: O mistério da velhinha do ônibus



Era impossível dizer sua idade ao certo, mas beirava os 80. Tinha as rugas e o excesso de pele que toda pessoa de 80 anos tem. Seu cabelo era branco, encardido nas pontas, andava de modo lento e tinha um rosto sereno. Olhando assim, sem conhecê-la, qualquer um diria que era uma velhinha bem simpática (digo sem conhecê-la pois acho que ninguém a conheceu na realidade – talvez nem ela mesma). 

Tal velhinha era reconhecida por todos que freqüentavam o Ônibus 581 que passava pontualmente às 23h na Rodoviária de uma cidadezinha qualquer. 

A velha senhora sempre carregava em sua mão direita uma sacola cinza com dois pacotes de papel higiênico e sempre se sentava no terceiro banco da segunda fileira do lado esquerdo do ônibus. Era como um ritual e quase hipnótico de se ver. 

Vez ou outra, um ser distraído ou desinformado acabava se sentando no terceiro banco da segunda fileira do lado esquerdo do ônibus e a idosa se irritava. Essa era uma das poucas ocasiões em que se podia ouvir algum som emanando de suas cordas vocais: eram gritos, xingamentos e certos palavrões, querido leitor, que confesso desconhecer o significado. 

Esta senhora possuía essa única exigência para aqueles que a cercavam: não podiam de forma alguma sentar-se no seu banco! Sempre fazia valer esse seu ‘direito adquirido’, uma expressão que aqui significa um direito que conquistou através da sua força vocal. 

Foi assim durante um bom tempo. Todos que utilizavam o Ônibus 581 conheciam a velhinha e seu constante hábito de comprar papéis higiênicos. Aliás, fato este que nunca ficou bem esclarecido. Os tititis durante a viagem eram diversos, mas no fim chegaram ao consenso que deveria ser por necessidades fisiológicas mesmo; isso justificaria o cheiro estranho que ela exalava. 

No mês de outubro, porém, a chuva começou a castigar o ambiente e caía pesada na cabeça de alguém que, por desventura ou esquecimento, houvesse se esquecido de pegar o guarda-chuva antes de sair às ruas. Foi nesse período que a velha senhora desapareceu. Ninguém mais a viu freqüentar o ônibus nem seu cabelo branco encardido e nem o cheiro que às vezes chegava a desagradar. Talvez tivesse medo que a chuva pudesse dissolver o precisos conteúdo de sua sacola. 

Independentemente do que ocorreu, ela realmente não foi mais vista; e mesmo que o ônibus estivesse lotado (o que raramente acontecia), o terceiro banco da segunda fileira do lado esquerdo nunca mais fora ocupado. Sempre quando os relógios marcavam 5 minutos antes das 23h os cidadãos, com olhos fundos e sonolentos, colavam suas cabeças nas janelinhas e procuravam, em vão, pela velhinha e sua sacola de papéis higiênicos. 

Mas ela não estava mais lá. 
E o ônibus partia.

Esse é um dos antigos, que era para ser um conto e acabou se tornando uma crônica, ou um conto-crônica, sei lá. Deu saudade desse tempo...

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Leitura da semana #2

A semana foi bem fraca. Ao contrário de muita gente, eu uso as férias para ter ainda mais preguiça que o normal e foi basicamente isso que aconteceu. A semana de leitura foi (bem) fraca, mas está aqui.

A NOIVA DO TIGRE (Téa Obreht)

Ainda não acabei de ler, mas o livro me parece bem promissor. O escolhi devido a recomendação do Santiago Nazarian, um dos meus autores nacionais preferidos e o tradutor do referido livro. A história começa com a morte do avô de uma jovem médica e esta se recordando das histórias que ele contava para ela há tempos, além de outras descobertas fantásticas. O que não me acostumei com o livro foram os nomes de pessoas e lugares, pois se passa mais ou menos na região da Sérvia, mas com o tempo fica aceitável. Só mesmo quando eu acabar a leitura para ter uma opinião mais concreta, mas está valendo a pena.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O Espelho



Bia se olhava no espelho e se achava gorda.
Paulo se olhava no espelho e se achava fracote.
Regis se olhava no espelho e se achava velho.
Alice se olhava no espelho e via outros mundos.

O espelho olhava para eles e ria, refletindo apenas o que eles queriam ver.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Leitura da semana #1

Hoje vou começar esse post semanal (ou não) para falar sobre os livros que li durante a semana e um breve comentário sobre eles.

EU SOU UM GÊNIO DE MALDADE INENARRÁVEL E QUERO SER SEU PRESIDENTE DE TURMA (Josh Lieb)

O livro tem uma pegada bem infanto-juvenil, mas é até bem divertido. Um garoto que se imagina rico e poderoso (fato esse que ninguém sabe devido seus esquemas mirabolantes para esonder sua influência) vai driblando assim o bullying que sofre, na busca de atenção e do posto de presidente da turma do colégio. Tem um humor ácido que faz valer a pena a leitura.





AXOLOTLE ATROPELADO (Hellene Hegemann)

De longe, a melhor leitura da semana. O livro invade um universo meio nonsense de Mifti, uma garota rica que mora na Alemanha, viciada em drogas. O livro teve bastante repercussão no seu lançamento, pois a autora, Helene, foi acusada de plágio, fazendo com que sua obra simplesmente fosse a colagem de diversas outras. Na verdade isso meio que acontece e o livro traz um apêndice com referências às obras que serviram de "inspiração" à autora. Mesmo sendo pesada, achei uma leitura diferente do convencional. Destaque para os devaneios de Mifti em que é difícil distinguir se são verdade ou não. Só para justificar o título, axolotle é uma espécie de  salamandra mexicana que conserva as características do seu estado larval, uma alusão a personagem principal que se mantém em seu estado adolescente.


ANTES QUE EU VÁ (Lauren Oliver)

A escolha desse livro foi pelo fato de eu querer algo mais sentimental para ler. Quase larguei nas primeiras 30 páginas por se tratar de um livro mais de menininha, citando um zilhão de marcas de cosméticos, roupas, lojas, bolsas, etc. Mas o livro fica mais profundo daí pra frente. A história é de uma garota que morre após um acidente  e começa a reviver o mesmo dia em busca de certas respostas. A autora até que lida bem no desenvolvimento da descrição da mudança do tempo e as leis de ação e reação de acordo com cada escolha da protagonista. Legalzinho.


oi, sou um axolotle e sou sempre risonho.