sábado, 29 de maio de 2010

Sangue na calçada



A garota nunca entendia quando seu novo amigo dizia que achava os humanos estranhos. E ela sempre ouvia isso sentada ao lado dele, na calçada da rua Rubemberta, enquanto o sol se punha.

Ela não gostava muito, pois o ato de o sol se pôr significava também que logo era hora de entrar, e era apenas nessa hora que seu amigo se revelava, e era nessa hora que seu coraçãozinho batia mais forte, e era nessa hora que escondia um pouco o rosto sob os cachos do cabelo para não deixar transparecer seu rosto enrubescido, e era nessa hora que ele chegava mais perto e tocava sua pequenina mão, e era nessa hora que ela se sentia bem feliz.

Naquele fim de tarde, os dois se entreolharam. E ela o achou tão branco, e ele a achou tão pulsante e apetitosa.

Ele sorriu um sorriso grande e branco com suas presas ainda infantis. Se aproximou da pequena e sentiu-a tremendo. Então isso é amor?, foi o que ela pensou antes de sentir uma dorzinha no pescoço, onde o novo amigo fincou os dentes pontudos e sorveu seu sangue doce.
Sugou-o com vontade até que estivesse saciado e deixou-a ali na calçada, deitada, inconsciente, enquanto o fluido ainda jorrava de sua jugular manchando o chão de vermelho... e o seu jantar esfriava na mesa da cozinha.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Reunião


Em volta da pequena fogueira, enquanto as chamas crepitavam dançantes, estavam os quatro sentados: o Ex-boêmio, que vivia das lembranças de um passado recente e dos gostos que lhe deixaram na boca; a Sentimental, que não conseguia falar quando as lágrimas invadiam seu rosto e escorriam pelo resto do corpo; a Alterada, que não permitia que lhe cortassem o assunto e muito menos lhe contrariassem e também o Inerte, que só estava ali para ouvir e concordar com tudo que os outros dissessem.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Breno, meu amigo noturno e faminto


Querido diário, sempre tive muito medo do escuro. Há alguns dias, porém, fiz amizade com o monstro que mora embaixo da minha cama e ele acabou se tornando minha única companhia durante a noite. Seu nome é Breno.

Confesso que no início fiquei com um pouco de medo sim, mas logo nos tornamos grandes amigos. Todas as noites eu, sentada na cama, jogava alguns biscoitos no chão para ele comer.

Não sei o que aconteceu, mas hoje ele anda muito agitado; pode ser que esteja com fome. Meu pai já veio umas vinte vezes aqui ver o que estava havendo, mas nessas horas Breno sempre fica caladinho.

Ai! Ele acabou de comer um pedaço da trança do meu cabelo. Não posso nem brigar, ele está certo em fazer isso, pois os biscoitos acabaram. Pode ficar com alguns dedinhos da mão direita também, já que sou canhota mesmo. Ai, ai! O braço todo? Não, já está bom. Isso dói um pouco. Isso é sangue? Aí não, Breno! Para! Eu sei que somos amigos. Tá, só mais um pedacinho então. O quê? Não, você não poder comer minh...


24o lugar no 2o Concurso de Minicontos do Estronho e Esquésito