domingo, 28 de outubro de 2012

Nota de jornal



Hoje uma nota no jornal me lembrou de você. Quase ninguém deve ter visto. Ele vinha espremida entre a notícia de uma cara que foi preso por ter sido confundido com um criminoso americano e uma reportagem sobre aumento de impostos. Ela parecia bem perdida ali, deve ter passado quase despercebida ao editor.

Falava sobre Cusco e a escuela cusqueña. Você sempre teve grande paixão por ambos, a cidade e arte em geral, e era apaixonante te ouvir falar sobre isso. Tenho um livro grande aqui na minha estante e é por ele que conheço Cusco – a cidade turística, não a do seus olhos. Aquela pequena nota de jornal me fez lembrar de muita coisa e, enquanto eu apertava os olhos para enxergar as letras tão miúdas, algumas gotas umedeceram sem querer o papel, desmanchando mais uma lembrança.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mãos de Tinta




Se minhas mãos fossem de tinta, meu papel seriam muros, telas urbanas pedindo uma chance, e minhas cores – displicentemente colocadas – seriam história.

Um sujeito, atrasado para o trabalho, não resistiria a parar e olhar a tinta que ainda pulsava, seguindo o ritmo das batidas do coração do muro-mundo. Quando não é possível entender, você se resigna a sentir e deixa que seus olhos naveguem.

Se meus dedos fossem pincéis, minha arte seria imediata; não me engasgaria com vírgulas e verbos. Todas minhas ideias refletiriam traços, ainda que abstratos, sobre uma parede abandonada. Se minhas mãos fossem de tinta, jamais secariam.