Na cidade grande, não havia mais aquela emoção de olhar para os dois lados antes de atravessar a rua. Lá se foi o aprendizado materno.
quinta-feira, 29 de março de 2012
terça-feira, 27 de março de 2012
Sete fitas
Aguardaram ansiosas até que a chuva terminasse de cair. Enquanto as últimas gotículas nadavam iluminando o céu como pequenos pontos de cristais, as sete garotas pegaram as sete fitas que se formavam no céu e começaram a dançar.
Garotas e fitas rodavam ao som de uma música invisível, as pessoas cinzas assistiam de fora e sonhavam de olhos abertos. Os sonhos se juntavam às fitas, às cores e juntos pincelavam o céu úmido, trazendo algo que os habitantes dali não estavam acostumados, mas que alguns chamariam de vida.
Por alguns instantes as pessoas tinham cores, e de tão misturadas nem podiam ser nomeadas nesse instante. Ou posso tentar: azurelo, vermezul, roxermelho e até flicts. Quando a brisa se transformou em vento, as sete garotas agarraram-se firme em seus pedaços de pano multicoloridos e aproveitaram a carona.
Tudo voltou ao cinza costumeiro, mas dentro das pessoas algo estava vívido. Luna, que assistia quieta segurando a mão de sua mãe, só conseguia imaginar se poderia ser ela a segurar umas das fitas no ano seguinte... e sua mão levemente rosada trazia esperanças.
Imagem por Ricardo Chaves
sábado, 24 de março de 2012
Coisas na cabeça
Não importava o lugar nem a hora. Qualquer um poderia ter engatado uma conversa com ele e mesmo assim ele parava de repente. Seu olhar ficava vago, seu rosto sem expressão. Numa dessas, até falava sozinho, pegava seu caderninho de lugar-comum no bolso, anotava algumas palavras e depois voltava ao normal, retomando a conversa.
Era durante o café, no ônibus, andando na rua; não tinha uma regra, simplesmente surgia e ele paralisava.
“Tirando isso, meu filho é bem normal”, a mãe tentava se justificar. De tanta insistência de vizinhos e outros sem importância, entretanto, ela resolveu levar o filho ao médico.
Foram feitos todos os exames necessários, uns que doíam, outros que doíam mais ainda, e o médico ainda não havia chegado a um resultado. Foi quando aconteceu. O rapaz ficou imóvel, olhar fixo no horizonte e em nada ao mesmo tempo. “Ah sim, isso mesmo”, disse baixinho consigo e anotou algo em seu caderno.
“Ele é maluco, não é? É sim!”, perguntou a mãe, em prantos.
O doutor suspirou aliviado. “Não se preocupe, minha senhora. Ele não é maluco, é apenas escritor.”
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