sábado, 21 de julho de 2012

O último beijo



Me arrependi de ter lhe pedido aquele beijo. Beijos roubados sempre me agradaram o paladar, mas beijos forçados são como um deserto sem oásis. Sua boca seca nem se moveu quando meus lábios encontraram-na. Havia também certa eletricidade ali, não daquela boa que corre o corpo num primeiro encontro, mas daquela que repele, que dá medo de se machucar.

Mal nossos lábios se tocaram e eu recuei, notando sua expressão indiferente. Tive receio em insistir e ser sugado para seu saara, mas eu deveria ter tentado. Viveria exausto dentro de você, deixando que me absorvesse, se isso trouxesse vida a sua boca.

Por isso putas não beijam. Beijo exige compartilhar um pouco de sua loucura e elas preferem manterem-se inócuas em sua devassidão. Você não era puta, mas preferiu manter-se afastada também, a salvo. Quando te puxei para junto de mim, senti seu corpo tenso. Você sabia o que eu queria. Você sempre soube, mas esteve sempre desértica, elétrica, distante.

Na minha cabeça, eu finjo que o tempo parou naquele microssegundo, assim eu posso fazer durar o quanto eu queira. Às vezes, assisto em câmera lenta, dá um ar dramático legal, porém nunca chego ao fim do vídeo-pensamento, quando os lábios se separam. Eu edito em minha mente e corto essa parte, adiciono falas e efeitos – você sempre diria: por favor, não pare! ou colocaria a mão em minha nuca e não permitiria que nos afastássemos.

Se você soubesse que aquele seria o último beijo, talvez tivesse caprichado, ou mesmo nem o tivesse dado, fazendo com que não houvesse assim nenhuma lembrança de um beijo final.

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