terça-feira, 17 de julho de 2012

Zumbi corredor



Os músculos das minhas pernas se contraem e relaxam de acordo com as minhas passadas. Estou correndo. Nesses minutos de pseudofelicidade, sinto o sangue fluindo com força para baixo. Meu cérebro está quase seco e finalmente todos aqueles pensamentos vão embora. 

Meu peito ainda exibe a cicatriz da cirurgia recente. Três aros no coração para aguentar o tranco. Não esperaria os seis meses de repouso; não esperei sequer um. Se eu estivesse pensando nesse instante, me daria medo imaginar a ferida se abrindo com o esforço e meu órgão pulsante caído ali no chão, sujeito a ser pisado por qualquer transeunte distraído.

Zumbis não pensam. Eu correndo sou um zumbi; por alguns momentos sou essa casca sem vida e sem preocupações. Direito, esquerdo. Direito, esquerdo. O padrão se repete sem fim. Acelero o passo e minha respiração segue o ritmo. Procuro mais problemas e eles próprios me motivam a esquecê-los, então corro. Esse é meu ciclo vicioso. O dificuldade de correr assim é nunca chegar a lugar algum.

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